domingo, 21 de abril de 2013

Crônica #17 - Crônica cacófona



Caco Anacolutus trabalha numa empresa de marketing. Depois de um dia estafante de trabalho, decide ir a um happy hour com funcionários da empresa cliente e seus próprios colegas de trabalho. Quando chega, senta-se ao lado de Amele Cacófona, novata na empresa.

Caco, como montaremos mostra sobre esse equipamento tosco do cliente? Pergunta Cacófona, falando baixinho. Vem cá gandula, você não é juiz, heim?

Ela sempre vem com esses ditados populares. Refere-se ao cargo de Caco, ao fato de ele não ter poderes para ditar as regras do projeto.

Não sei responde Anacolutus. Não se preocupe. Nossa equipe, eu sempre a vejo superando-se. Esse projeto, acho que daremos um jeito.

Falar sobre trabalho é a última coisa que Caco quer num happy hour, então ele trata logo de mudar de assunto. Depois de três rodadas de chopp, o papo começa enfim a ficar animado, até que uma hora depois o celular de Caco toca. É sua esposa, Maria Pleonasmicleide.

Amor, você esqueceu de descer nossas malas para baixo. Não consigo subir para cima, para tentar alcançá-las no topo do armário..
Mas você, para que quer essas malas?
Vamos sair pra fora amanhã cedo, esqueceu? O tom da voz de Pleonasmicleide fica mais severo.

Um lampejo une os neurônios preguiçosos de Caco, e em um microssegundo ele se lembra da falha grave que acaba de cometer. Ele não deveria estar ali naquele happy hour, porque hoje é o dia do seu aniversário de casamento. Esqueceu-se completamente. Ele e sua esposa haviam planejado passar os dois dias seguintes fora da cidade, saindo bem cedo para se hospedarem numa pensão na Serra.

Você se esqueceu do nosso aniversário de casamento, de forma a não se lembrar dele? Pleonasmicleide diz aquilo pouco antes de Caco começar a tentar pensar em algum argumento. Onde você está? Que barulho de ruídos é esse?

Caco levanta-se.

Querida, você, veja bem...
Já entendi! Pleonasmicleide desliga.

Parado ali, de pé, perto da cabeceira da mesa, ele já começa a formular uma boa desculpa para usar quando chegar em casa, ao mesmo tempo em que saca a carteira para pagar aquilo que consumiu.

O que houve? Pergunta Cacófona. Vai dizer que o telégrafo deu problema.
Ela refere-se ao celular de Caco.
Não... Hoje é meu aniversário de casamento. Esse aniversário, eu o acabei esquecendo...
Eita, vejo uma montanha de merda se acumulando num balde gigantesco prestes a entornar sobre você! diz Geraldo Hiperbolino, segurando aquilo que provavelmente é seu décimo copo de chopp. É, meu amigo. Isso já aconteceu comigo. Chorei rios de lágrimas.
Não exagera diz Ana Eufemismina ele só ficou um pouco desprovido de memória hoje. Não se lembrou do detalhe da data.
Tá brincando? diz Hiperbolino. Esquecer o próprio aniversário de casamento é uma mancada gigantesca, imensa, a maior de todas as cagadas da história da humanidade!

Caco deixa o dinheiro sobre a mesa e despede-se.

Lindo, minto diz Almir Aliterassôncio. O dinheiro que vai deixar é só esse? Que benesse heim?
O chopp, eu só tomei um diz Caco.
Tá, ele comeu um pouquinho diz Eufemismina. Mas não foi tanto.
Quase metade da batata frita, a linguiça calabresa quase toda, o aipim... Uma montanha de comida diz Hiperbolino. Mas deixa. Dessa vez passa.

E Caco Anacolutus sai, na esperança de reverter as consequências de mais um episódio de esquecimento de datas importantes...

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