Caco Anacolutus
trabalha numa empresa de marketing. Depois de um dia estafante de trabalho,
decide ir a um happy hour com funcionários da empresa cliente e seus próprios
colegas de trabalho. Quando chega, senta-se ao lado de Amele Cacófona, novata
na empresa.
– Caco, como montaremos mostra sobre esse equipamento tosco do cliente? – Pergunta Cacófona, falando baixinho. – Vem cá gandula, você não é juiz, heim?
Ela sempre vem com
esses ditados populares. Refere-se ao cargo de Caco, ao fato de ele não ter
poderes para ditar as regras do projeto.
– Não sei – responde Anacolutus.
– Não se preocupe. Nossa equipe, eu sempre a
vejo superando-se. Esse projeto, acho que daremos um jeito.
Falar sobre trabalho
é a última coisa que Caco quer num happy hour, então ele trata logo de mudar de
assunto. Depois de três
rodadas de chopp, o papo começa enfim a ficar animado, até que uma hora depois
o celular de Caco toca. É sua esposa, Maria Pleonasmicleide.
– Amor, você esqueceu de descer nossas malas para baixo. Não consigo subir para cima, para tentar alcançá-las no topo do armário..
– Mas você, para que quer essas malas?
– Vamos sair pra fora amanhã cedo, esqueceu? – O tom da voz de Pleonasmicleide fica mais severo.
Um lampejo une os neurônios preguiçosos de Caco, e em um microssegundo ele se lembra da falha grave que acaba de cometer. Ele não deveria estar ali naquele happy hour, porque hoje é o dia do seu aniversário de casamento. Esqueceu-se completamente. Ele e sua esposa haviam planejado passar os dois dias seguintes fora da cidade, saindo bem cedo para se hospedarem numa pensão na Serra.
– Você se esqueceu do nosso aniversário de casamento, de forma a não se lembrar dele? – Pleonasmicleide diz aquilo pouco antes de Caco começar a tentar pensar em algum argumento. – Onde você está? Que barulho de ruídos é esse?
Caco levanta-se.
– Querida, você, veja bem...
– Já entendi! – Pleonasmicleide
desliga.
Parado ali, de pé, perto da cabeceira da mesa, ele já começa a formular uma boa desculpa para usar quando chegar em casa, ao mesmo tempo em que saca a carteira para pagar aquilo que consumiu.
– O que houve? – Pergunta Cacófona. – Vai dizer que o telégrafo deu problema.
Ela refere-se ao celular de Caco.
– Não... Hoje é meu aniversário de casamento.
Esse aniversário, eu o acabei esquecendo...
– Eita, vejo uma montanha de merda se acumulando num balde gigantesco prestes a entornar sobre você! – diz Geraldo Hiperbolino, segurando aquilo que provavelmente é seu décimo copo de chopp. – É, meu amigo. Isso já aconteceu comigo. Chorei rios de lágrimas.
– Eita, vejo uma montanha de merda se acumulando num balde gigantesco prestes a entornar sobre você! – diz Geraldo Hiperbolino, segurando aquilo que provavelmente é seu décimo copo de chopp. – É, meu amigo. Isso já aconteceu comigo. Chorei rios de lágrimas.
– Não exagera – diz Ana Eufemismina – ele só ficou um pouco desprovido de memória hoje. Não se lembrou do
detalhe da data.
– Tá brincando? – diz Hiperbolino. – Esquecer o próprio aniversário de casamento é uma mancada gigantesca,
imensa, a maior de todas as cagadas da história da humanidade!
Caco deixa o dinheiro sobre a mesa e despede-se.
– Lindo, minto – diz Almir Aliterassôncio.
– O dinheiro que vai deixar é só esse? Que
benesse heim?
– O chopp, eu só tomei um – diz Caco.
– Tá, ele comeu um pouquinho – diz Eufemismina. – Mas não foi tanto.
– Quase metade da batata frita, a linguiça calabresa quase toda, o aipim... Uma montanha de comida – diz Hiperbolino. – Mas deixa. Dessa vez passa.
E Caco Anacolutus sai, na esperança de reverter as consequências de mais um episódio de esquecimento de datas importantes...
– Quase metade da batata frita, a linguiça calabresa quase toda, o aipim... Uma montanha de comida – diz Hiperbolino. – Mas deixa. Dessa vez passa.
E Caco Anacolutus sai, na esperança de reverter as consequências de mais um episódio de esquecimento de datas importantes...
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