“Você é muito tranquilo.” – Disse-me certa vez uma
colega de trabalho. Segundo ela, em momentos em que o mundo parece desabar eu mantenho
sempre a minha austeridade.
Lembro-me de uma vez em que saí com minha esposa e meu
filho. Eu estava dirigindo. Na ocasião, nos perdemos a caminho de um churrasco.
Depois que conseguimos chegar ao destino, ela disse algo como “que bom que você
é uma pessoa paciente”. Naquele momento (ela vai saber agora), pedi
perdão, mentalmente, pelas palavras que haviam visitado meus pensamentos
minutos atrás; não dirigidas a ela, mas à situação.
Hoje reflito sobre isso, e concluo que a interface que
temos com as pessoas vale muito.
Quando ouço um rompante de fúria de algum funcionário
descontrolado que trabalha a poucas baias de mim, recebo uma mensagem pelo
Skype de alguém perguntando se tenho um minuto quando faltam menos de cinco
minutos para o fim do expediente ou recebo más notícias da equipe de testes ou
de produção, invariavelmente permaneço com a mesma expressão pseudotranquila,
apesar de guardar algumas opiniões nada amigáveis. Quem me observa nesses momentos
deve achar que sou muito frio, mas nada poderia estar mais longe da verdade. O
que acontece é que minha incapacidade de expor certas emoções por vezes
trabalha a meu favor. Prova dessa incapacidade é eu ter recebido de um
ex-colega de trabalho o apelido de “Data”, o androide sem sentimentos da série
Jornada nas Estrelas. Atualmente, acho que me chamam de Robocop...
É isso, nobre leitor; todos têm uma máscara. Quantas
vezes não nos deparamos com pessoas simpáticas, mas que na verdade devem estar
nos jogando pragas? Nunca iremos saber. Em uma viagem que fiz à Alemanha, visitei
uma mostra de tecnologia no museu de Heinz Nixdorf, na cidade de Paderborn. No balcão dos guarda-volumes, uma funcionária mantinha o controle dos visitantes;
ela preenchia uma pequena ficha e perguntava o país de origem de cada um. Ela
dizia a todos: “que país adorável”. Certamente dizia aquilo a qualquer um, sem exceção; mas o que
importava para mim naquele momento? Ganhei um sorriso e fui bem atendido. Talvez
ela tivesse de fato uma opinião diferente acerca do Brasil, talvez não, mas o
fato é que acreditei na sinceridade dela. Se acreditei, para mim estava tudo
bem. A atendente em questão poderia perfeitamente ter decorado um script: “para
cada visitante, pergunte sobre o nome do país de origem e diga que se trata de um
país adorável, mesmo que seja o <coloque aqui o país mais desconhecido que
você conhece>”.
Mas, ao
contrário das máscaras de pura cortesia como essa, que podem ser funcionais ou
não, a minha máscara de frieza é diferente. Não é programada. É inconsciente, e
até mesmo os mais próximos têm dificuldade em saber o que se passa na minha
cabeça. Então, sigo com esta imagem (ou interface social) no ambiente
corporativo: gelado como um iceberg de nitrogênio para os desconhecidos, frio
como uma pedra de gelo para os mais chegados.