Situação
1: no elevador
São 11:55. Você entra no
elevador e dá de cara com um vizinho. São quase dez andares até chegar ao solo.
Assim que você entra, seu companheiro de viagem vertical comenta:
– Bom
dia.. – Dá uma olhada no relógio, e completa – Quase boa
tarde, não é?
Silêncio. Os andares passam
lentamente. Você tenta algo:
– Que tempo maluco,
não é? Ontem mesmo fez o maior sol.
Ele sorri e não diz nada.
Você dá aquele sorriso falso. Há silêncio novamente, que impera até que a
porta se abra e vocês enfim se desvencilhem.
Situação 2: no
restaurante
Volta
e meia vou almoçar sozinho no restaurante da empresa. Resquício da época em que
eu estava escrevendo o livro e precisava almoçar rapidamente, em 20 minutos ou
menos, para depois gastar 40 minutos digitando no smartphone num local
estratégico do prédio, onde ninguém conhecido pudesse me ver.
Num
belo dia estou sentado, tendo acabado de me servir. Apenas eu e uma mesa de
seis lugares. Mal começo a refeição, dois jovens (um homem e uma mulher) pedem
licença e sentam-se. Devem ser estagiários.
Quando
estou só, invariavelmente presto atenção à conversa alheia que chega sem
esforço aos meus ouvidos. Já ouvi gente falando mal de um funcionário que não
estava presente (provavelmente para se sentirem competentes), gente falando mal
do cliente, funcionários comentando sobre pirataria, sobre carros, etc. Neste
dia, espero ouvir o que o casal de jovens tem a dizer, mas mal sei eu que me
decepcionarei.
Mal
sentam-se, ela dá a primeira garfada e desbloqueia o smartphone. Dá para ver
com minha visão periférica. Rola a tela para cima e para baixo, enquanto
mastiga e provavelmente confere se não perdeu alguma atualização de status dos
amigos nos últimos minutos que ficou desconectada (entre a mesa de trabalho e o
restaurante, no mesmo prédio). Depois, bloqueia o smartphone e continua a
comer. Nenhuma palavra dos dois até agora. Silêncio.
Mal
tendo ela acabado de bloquear a tela, foi a vez dele desbloquear o aparelho e
fazer o mesmo. Permanece assim por alguns segundos, até que ela não se contém e
desbloqueia novamente o smartphone, afinal, vai que alguém "tuitou"
nos últimos 53 segundos... Eu suspeito até que estejam se comunicando via
SMS, WhatsApp ou algo parecido, apesar de próximos, mas ao que tudo
indica não é o caso. Cada um na sua, navegando nos seus círculos de amigos,
estão bastante imersos. Num dado momento ela dá um sorriso (um
"twitt" de alguém famoso?), ainda olhando para o aparelho enquanto
mastiga.
Apenas
vários minutos depois coincide de os dois estarem com os aparelhos bloqueados
ao mesmo tempo, ao lado dos pratos. Então, não há alternativa senão conversar.
O silêncio enfim é rompido.
Um almoço solitário
frustrante para mim, com pouca história para ouvir... Assim fica difícil.
Situação 3: piada sem graça
Os
famosos microssegundos que você leva para entender uma piada que seu amigo
conta, quando ela não é boa ou não é óbvia. Parecem eras geológicas enquanto
ele aguarda a sua reação, esperando que seu sorriso amarelo se torne um sorriso
de verdade ou uma gargalhada.
Situação 4: ops,
ninguém pensou nisso antes
Quando,
numa reunião de trabalho com o cliente e já quase na fase final do projeto,
alguém menciona um detalhe no qual ninguém pensou antes. Há um hiato até que
alguém diga alguma coisa.
O
nobre leitor pode ter absoluta certeza de que o tempo de silêncio nessa
situação é inversamente proporcional ao salário de quem falou. Se quem
descobriu a falha no projeto foi um estagiário, pode esperar um tempo enorme
(cerca de cinco segundos). Se foi um gerente de projetos, serão cerca de dois
segundos.
Situação 5: o assunto acaba
Você está conversando com seus colegas, e de repente o tema se resolve,
não há mais argumentos. Todos perdem o interesse pelo assunto ao mesmo tempo.
Nesse momento, todos ficam pensando talvez o mesmo que você: "o que digo
agora? como foi meu fim-de-semana? Melhor não. Minhas férias? Não... O tempo
que virou e ficou nublado? Muito batido. Já sei. Futebol! Mas acabamos de falar
sobre Neymar. A copa. Pronto, acho que vou comentar algo sobre a
copa."
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