domingo, 30 de dezembro de 2012

Crônica #2 - Iceberg nítrico e máscaras


“Você é muito tranquilo.” – Disse-me certa vez uma colega de trabalho. Segundo ela, em momentos em que o mundo parece desabar eu mantenho sempre a minha austeridade.
Lembro-me de uma vez em que saí com minha esposa e meu filho. Eu estava dirigindo. Na ocasião, nos perdemos a caminho de um churrasco. Depois que conseguimos chegar ao destino, ela disse algo como “que bom que você é uma pessoa paciente”. Naquele momento (ela vai saber agora), pedi perdão, mentalmente, pelas palavras que haviam visitado meus pensamentos minutos atrás; não dirigidas a ela, mas à situação.
Hoje reflito sobre isso, e concluo que a interface que temos com as pessoas vale muito.
Quando ouço um rompante de fúria de algum funcionário descontrolado que trabalha a poucas baias de mim, recebo uma mensagem pelo Skype de alguém perguntando se tenho um minuto quando faltam menos de cinco minutos para o fim do expediente ou recebo más notícias da equipe de testes ou de produção, invariavelmente permaneço com a mesma expressão pseudotranquila, apesar de guardar algumas opiniões nada amigáveis. Quem me observa nesses momentos deve achar que sou muito frio, mas nada poderia estar mais longe da verdade. O que acontece é que minha incapacidade de expor certas emoções por vezes trabalha a meu favor. Prova dessa incapacidade é eu ter recebido de um ex-colega de trabalho o apelido de “Data”, o androide sem sentimentos da série Jornada nas Estrelas. Atualmente, acho que me chamam de Robocop...
É isso, nobre leitor; todos têm uma máscara. Quantas vezes não nos deparamos com pessoas simpáticas, mas que na verdade devem estar nos jogando pragas? Nunca iremos saber. Em uma viagem que fiz à Alemanha, visitei uma mostra de tecnologia no museu de Heinz Nixdorf, na cidade de Paderborn. No balcão dos guarda-volumes, uma funcionária mantinha o controle dos visitantes; ela preenchia uma pequena ficha e perguntava o país de origem de cada um. Ela dizia a todos: “que país adorável”.  Certamente dizia aquilo a qualquer um, sem exceção; mas o que importava para mim naquele momento? Ganhei um sorriso e fui bem atendido. Talvez ela tivesse de fato uma opinião diferente acerca do Brasil, talvez não, mas o fato é que acreditei na sinceridade dela. Se acreditei, para mim estava tudo bem. A atendente em questão poderia perfeitamente ter decorado um script: “para cada visitante, pergunte sobre o nome do país de origem e diga que se trata de um país adorável, mesmo que seja o <coloque aqui o país mais desconhecido que você conhece>”.
Mas, ao contrário das máscaras de pura cortesia como essa, que podem ser funcionais ou não, a minha máscara de frieza é diferente. Não é programada. É inconsciente, e até mesmo os mais próximos têm dificuldade em saber o que se passa na minha cabeça. Então, sigo com esta imagem (ou interface social) no ambiente corporativo: gelado como um iceberg de nitrogênio para os desconhecidos, frio como uma pedra de gelo para os mais chegados.

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